Uns quatro anos atrás recebi o convite para trabalhar na recuperação da área de um antigo lixão.
A prefeitura havia coberto com argila os resíduos acumulados ao longo dos anos.
Tentava recuperar a área, os resíduos enterrados e criar espaço para uma central de triagem de resíduos sólidos.
Beleza. Projeto interessante. Já trabalhava na área anexa, onde funcionava a então unidade de triagem de "lixo". Conhecia de vista, de longe, a área a ser recuperada.
Um dia fui ver detalhadamente a área. A área era circundad por um arroio que abastecia lavouras de arroz. Arroz turbinado pelo chorume que seguramente contaminava o arroio e águas subterrâneas.
A idéia era ir escavando e selecionando os recicláveis, já que a matéria orgânica de outrora já se oxidara, virando o chorume.
Enquanto caminhávamos pelo aterro, vendo surgir aqui e ali os materiais que formavam a pilha, vendo as saídas das exalações de gases emitidos, vendo a flora que surgira naquele ambiente, encontrei o caixão.
Um caixão novo, escorado numa árvore, aberto.
Não entendo muito de caixão, mas o mesmo era de qualidade, com todos metais intactos, madeira polida. A tampa deitada ao lado do caixão. Possivelmente foi o dia em que mais analisei um caixão.
Comigo andava um geólogo, que quando chegou se assustou com o achado:
- Bah! Um caixão?!
- É. -respondi.
- Que susto... bah ... um caixão.
- O caixão não me assusta, o que me preocupa é onde anda o ocupante.
E saímos vendo se algum cadáver se trasnformava em necrochorume. Uma coisa a mais para se preocupar.
Até hoje não sei se o caixão um dia foi ocupado, seja por vivo ou morto.
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