Friday, July 08, 2005

Atentados

Tive a infelicidade de estar numa cidade que sofreu um atentado.
Foi em 25 de julho de 1995, em Paris. Fanáticos colocaram uma bomba que explodiu na estação de St. Michel. Cheguei no local a tempo de ver a remoção de feridos por helicópteros.
Com o colapso no sistema ferroviário e da atividade de ambulâncias e carros nas proximidades, tivemos que caminhar muito para chegar a uma linha de ônibus que nos levasse ao hotel.
Podia-se ver o desânimo da população.
O atentado de Londres de ontem, quase 10 anos após, me fez relembrar do parisiense. Ele andava esquecido na pedra da memória.
Li agora a pouco uma reflexão dos sentimentos, que afloram nesta hora, lá no Ventos
São muitos sentimentos que afloram nestas horas, um atropelo,  e a vergonha é um deles.
Tento evitar que meu filho assista estas barbaries, tem quase 5 anos, mas a certeza de que ele verá algo do estilo daqui a pouco, quem sabe muitas vezes, intensifica esta vergonha.
Quando os atentados são em cidades conhecidas, com população de origem branca, com hábitos e jeitos nossos, o impacto é grande. Creio que minha maior vergonha é saber que atentados destes são normais em outros cantos do mundo. Que a morte de 8 ou 40 pessoas é comum num país como Iraque, só que a gente esquece esta barbárie diária e parece só se chocar quando a coisa acontece no nosso pátio. Naquela cidade que conhecemos ou queriamos conhecer. Esta é minha vergonha: esquecer, por momentos, que atentados sempre acontecem.
 
Outro atentado destes dias é a corrupção que rouba milhões. Ver CPIs, CPMIs, seus personagens, a classe de alguns inquisitores, da falta de vergonha na cara e dos valores envolvidos é um atentado. Possivelmente com um impacto maior que as quatro bombas de ontem em Londres. Quanto medicamento, alimento ou saneamento poderia ser feito com as verbas desviadas/roubadas. Quantos morrem, no exato momento dos depoimentos, fruto da falta de um medicamento num posto de saúde. Que com o dinheiro do cafézinho servido nas CPIs poderia ser salvo.
Perde-se dinheiro, tempo e energia, além da já desviada. Vê-se desvios do foco em apurar as acusações. Vê-se defesas estranhas por parte de alguns inquisitores. Vê-se desqualificação de testemunhas e defesas de acusados. Este me parece o pior dos atentados, um atentado não pior que um que ceifa vidas diretamente, mas um atentado que corrói nossa sociedade, que gera esta miséria, que também mata.
 
O que fazer?

1 comment:

Luiz Afonso Alencastre Escosteguy said...

O que fazer? Continuar brigando, berrando, blogando. Eles estão saindo um por um, seja de que partido for. Por lá é que é difícil. Os americanos matam mais gente do que os terroristas e todo mundo acha lindo. Mas como não acharia com a midia toda só mostra o que os terroristas fazem? abs