Com a eletricidade a 220 V e um colchonete de camping, assumi meu posto na Travessa da Paz.
Na vizinhança um estúdio de ballet. À tardinha ao chegar é aquele teclar repetitivo de notas do piano e as instruções da professora: pliê, pliê, pliê,.... ou como se deva escrever isto em francês.
Como sou temeroso ao diabo, vou providenciar um rádio para anular o mantra, vai que um dia...
Na primeira manhã, despertador colocado para as 06h00min h, acordo ao som de um galo. Um belo e sonoro despertar.
Pensei ser a TV de um vizinho no Globo Rural.
Na manhã seguinte novamente. Ao esperar o eletricista, proseando com o zelador, escuto o cacarejar ali pelas 08h00min e se confirma, uma vizinha tem um galo. Segundo Iso, o "zêla", uma velha louca.
Pois nem em cidades do interior se tem o privilégio (ou desgraça, ainda nã o pude avaliar) de se acordar com o cantar de um galo.
Dormir ao som de pliê, pliê e acordar ao som de um galo, pensei que teria paz na Travessa da Paz.
Terei, sei que terei.
PS.: Na tardinha de quinta, chego no prédio e dou de cara com um camundongo. Chutá-lo ou pisar encima? Escutei alguém descendo as escadas e desisti não pegaria bem descobrirem o recém chegado pisoteando singelos camundongos nos corredores do prédio. Minha sorte é que o vizinho viu o roedor fazendo uma curva e entrando num túnel de luz.
No dia seguinte converso com o zelador e ele me conta o seguinte:
- A louca do galo fez uma limpeza na garagem, não saíram cobras e lagartos, mas os gatos dela (além do galo, há canídeos e felinos) fizeram a festa com os camundongos. Alguns saíram para rua, entrando nos prédios vizinhos.
Bem que notei que tal camundongo parecia ingênuo. Isto que não sou especialista no tema. Achei-o bobo, por assim dizer.
A vizinhança já chamou a vigilância sanitária.
Acho que meu despertador natural vai dançar, não no estúdio de ballet, quem sabe numa galinhada. Triste fim para um galo, uma galinhada.